calma

lugar

abril 13, 2012

- Óbidos -
Gosto de quartos pequenos. Cheios de tralhas, com as memórias bem perto de mim. Gosto de cadernos rabiscados. Cheios de tinta borrada e palavras indecifráveis. Gosto de guardar objectos que me levem a boas memórias. De amontoa-los em caixas. Guardo pedras que pontapeaste, canetas com que escreveste, coisas que achei. Gosto de recortar revistas, fazer colagens, criar histórias. Gosto de deitar-me dentro da cama de calças de ganga. Gosto de encher as paredes com papéis inspirados e inspiradores. Gosto de ter as gavetas abertas e a roupa amontoada numa qualquer cadeira. Gosto de livros perto de mim. Gosto da cama desfeita e  das janelas fechadas. Porque há sempre um lugar onde me sinto segura, onde me conheço bem.

abstrato

piano

abril 13, 2012

Falam-me de sonhos irreais, falam-me de vidas incompletas, falam-me de palavras não ditas. São apenas notas que ressoam sozinhas das teclas de um piano abandonado. Brotam vida, brotam silêncio. O piano que abandonaste quando a música calou. No salão os corpos dançam envoltos em si. Abstracto. Abraço. A melodia cortante lateja na garganta. Falam-me de coisas que eu não entendo. Corro. Há coisas que conheço bem. Fujo. Quem me dera abandonar-me ao vento, ao céu. Soltem-me nas teclas que serei capaz de voar. Tocas para mim como quem está a tentar segurar-me. Sabes que sou uma nota solta da tua pauta. Não me agarres, não toques. Abandona o piano tal como eu abandonei-te a ti.