caminho

transfiguração

junho 21, 2012

E o tempo corre como se se quisesse abrigar da chuva, levando consigo todos os assuntos pendentes desta vida tão precoce. E fui, com a maior das esperanças de que a chuva lavasse os meus pecados, o sabor ardente que me escorre para a boca quando caminho sem rumo, sentimentos que outrora estavam perdidos lá no fundo do meu ser. E é tempo, eu sinto. É tempo de reajustar as asas para um novo voo. Clamam-se livres, estas novas crias da sociedade. Embriagadas de sentido, ávidas de perdição. São pássaros prematuros sem instrução. Sem intuição. E o tempo corre como se se quisesse abrigar da chuva. E as crias voam debaixo da chuva, molham-se propositadamente porque bradam aos céus a sua liberdade. E nada do que criam parece real, porque não o é. E nada do que sonham parece real, porque não o é. E nada do que são é real, porque são apenas fragmentos transfigurados de uma sociedade que lhes concede um único dom: o de serem o que não são.

devaneios

quimera

junho 04, 2012

psicadélico. fragmentos criados num estado psíquico transcendente. devaneios inanimados de almas terrenas. semblantes afugentados por alucinações transitórias. frases inacabadas numa morte peremptória. confusão desconhecida num escuro perverso. silêncio. consciência adormentada de um caos presente. Desordem luminescente de conteúdo fútil. silêncio. claridade.

casa velha

demónios

junho 03, 2012

Há demónios com os quais não sei como lutar. E os cadernos, as folhas, o branco começa a ser preenchido. E o vazio, aos poucos, torna-se cheio. Cheio de nada, cheio de inutilidades, cheio de vazio. Há demónios que me perseguem. Deixo para trás as histórias que eles protagonizam. Não os apago de mim, não os esqueço, apenas adormento-os no meu peito, num lugar quente, quieto.
Não tenho medo do que vem aí, tenho ansiedade. Vontade. Não tenho medo de abrir os livros empoeirados, com as folhas carcomidas pelo tempo, e descobrir que vinte anos passaram, que uma vida passou, que tantas vidas passaram. Mas que digo eu? Não suporto saber que o tempo passa, que a pele enruga, se amachuca com as pancadas do destino, que o corpo se encaracola para dentro a aninhar-se em si mesmo. Não suporto caminhar lado a lado com os demónios de uma vida, não suporto crescer. Mas tenho tanta vontade de fazer as malas, só mais uma vez, e sair, como saio sempre. Fecho a porta atrás de mim e tudo o que fui permanece fechado, até ao dia em que abro os livros empoeirados, com as folhas carcomidas pelo tempo e sinto que a vida passou. E eu passei com ela.