Hoje estou a chover. Não vale a pena vires de mansinho, por entre as minhas gotas de chuva, puxares-me para ti e abrigares-me por baixo do teu chapéu de chuva. É tarde de mais. A chuva que me cai inunda-me de tudo, de nada. Estarei livre quando a nuvem passar? A minha chuva, as minhas lágrimas, o meu suor estão a lavar-me do que eu não quero. Quero ter coragem de salvar o que a àgua me está a tentar roubar. Sou forte. Luto contra a natureza e sou fraca, sufoco, afogo-me. Quero que me salves, quero que voltes. Volta! Hoje estou a chover, o meu cabelo molhado, o meu corpo ensopado. Não acredito que me escorres e és demasiado escorregadio para te impedir de escorregar. Diluis-te no chão e não sou capaz. Diluis-te no meu coração e eu chovo, chovo até a dor passar.
Como posso não reconhecer o rosto que tenho na minha frente? Estás desfigurado, transfigurado, diferente, mudado, de tudo o que eras no antes, no nosso antes. Não posso pedir que voltes, a revolta é demais que volta todas as noites para me fazer andar às voltas sem te voltar a encontrar. É tempo de virar costas, de dizer-te adeus. Um adeus só, tão só, de mim para ti.
Hoje é mais um dia em que me apetece gritar comigo própria e dizer que amanhã vai ser o melhor dia da minha vida. O tempo passa e tudo permanece, nem tu nem eu ficamos mais próximos e o abismo que se estende entre nós está cada vez mais profundo. Eu luto, tu lutas. Mas não somos fortes o suficiente para abarcar as barreiras que se estendem para lá de nós. Por agora, luto com o meu interior e sento-me, abraçada a mim, esperando levantar a cabeça e encontrar a tua mão. Nesse dia , seguir-te-ei sem olhar para trás.
Bem-vindo Dezembro. Contigo veio o frio, a neve, o espírito natalício e a vontade de deixar tudo para trás. É isso que me alicia juntamente com os sonhos, os coscorões e as fatias douradas de uma mesa qualquer de uma casa qualquer.
Despir-me do casaco de peles que me cobre a pele nua, e despir-me de tudo o que me pesa. Tenho pressa de entrar na casa que ontem abandonei e espalhar a minha vida pelo chão, deixar o meu cheiro pelo ar e encontrar-me contigo à janela. No vidro embaciado pelo meu bafo quente, espero poder delinear o teu jeito e dizer-te que serei capaz de ir embora.