homem dos patos

fevereiro 29, 2012

- Jardim do Castelo, Abrantes -
Hoje era o homem dos patos. O relógio apontava as 3 horas, luminosas, quietas. Lá de cima viemos nós, fervilhantes nas nossas conversas. Embrulhada no frio que estava, sentia a ânsia de descobrir aquele lugar. Um lugar pequeno, não tão pequeno quanto uma aldeia algures no monte, mas pequeno. Um lugar de gentes rústicas, homens de barbaçal negro, impondo a virilidade de chefes de matilha. Mulheres pequenas, debruçadas às janelas, de rugas ao ar e batas domésticas. As mãos sabiam a terra de cor, e os olhos cansados da vida acompanhavam este e aquele forasteiro que por alguma razão ali passava. Hoje era o homem dos patos que lá de cima nós avistámos. Um senhor pacato, calado mas que ao mínimo desenrolar de língua não mais se calava. Queria companhia, e às 3 horas, fossem luminosas ou mais escuras, lá estavam os patos. O barulho do carro já era familiar às mais de cinquenta aves que viviam no Alviela. Uma casa suja, desapropriada, esfomeada. Em fila subiam as margens do rio e chegavam bem perto do homem dos patos, que aos seus olhos de selvagens era apenas o senhor do pão, das migalhas. Sabia-los de cor, ou pela mancha que tinham no peito, ou pela forma do bico ou pela penugem mais acinzentada. Eram os patos de sempre, de uma vida, que o iam deixando aos poucos, talvez em busca de uma casa melhor, talvez pelo cansaço de lutar contra a corrente. Hoje era o homem dos patos.

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